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O biólogo e o empreendedorismo

Me formei, e agora, o que faço?” – esse é um pensamento que aflige praticamente a totalidade dos alunos que se graduam nas mais diversas áreas. No curso de ciências biológicas, a situação não é diferente. Pensando nisso, resolvi escrever sobre o tema, não intencionando descrever uma fórmula mágica para o sucesso (afinal, sou apenas uma pós-graduanda e ainda não faço parte da parcela da população que possui carteira assinada), contudo, gostaria de compartilhar reflexões que obtive ao longo da minha jornada acadêmica e que julgo pertinentes.

Um comportamento muito frequente e que me incomoda em colegas de profissão consiste no discurso pessimista sobre o curso de graduação em ciências biológicas. Se meu cérebro possuísse uma função “delete”, gostaria verdadeiramente de apagar as minhas memórias de palavras de total desincentivo que recebi, da parte de pessoas queridas, quando obtive a minha aprovação no curso de ciências biológicas. “Tem certeza que você quer ser só professor?”, “Poxa, porquê não tentou vestibular para medicina?”, “Ih, biologia? Vai morrer de fome!”, “Ah, você que ser então igual aquele cara lá da TV… o Richard Rasmussen!”, são apenas alguns dos clichês deprimentes que ouvimos ao longo da nossa formação acadêmica. Clichês que mostram uma total ausência de conhecimento do imenso leque de possibilidades de atuação da carreira do biólogo. Porém, nada me faz lamentar mais do que quando vejo esses clichês transporem da ignorância do público não relacionado a profissão (que até certo ponto é compreensível) para se tornar um discurso transmitido “culturalmente” entre os próprios acadêmicos da biologia, especialmente os biólogos já formados, que descarregam suas frustrações nos iniciantes na carreira. Já perdi a noção de quantas vezes pude ver colegas formados desestimulando os iniciantes, aconselhando a mudar de curso porque “biologia não dá dinheiro, vão ficar desempregados e blá blá blá”.

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MUITA ATENÇÃO: não estou dizendo que uma vez biólogo(a), você desfrutará da oportunidade de nadar em uma piscina de dinheiro. Sob CIRCUNSTÂNCIA ALGUMA, seja você um(a) biólogo(a) ou um(a) astronauta, poderá ser bem sucedido(a) se não executar deveres fundamentais para consigo mesmo, além de claro, atentar-se às oportunidades certas. E então gostaria de tocar em um ponto, que é crítico nesse processo: a inércia acadêmica.

Muitos estudantes não se dão contam que um comportamento unifocal de dedicação exclusiva as disciplinas ao longo do curso não capacitarão um profissional para atender as demandas do mercado de trabalho. Também não estou afirmando que é fácil conciliar atividades diferenciadas, todavia, tal como em outros setores da vida, a habilidade em lidar com múltiplas demandas é um requerimento fundamental em nossa sociedade. Além disso, as próprias instituições de ensino, como as universidades, são espaços de múltiplos aprendizados que permitem articular o conhecimento científico com a geração de produtos para a sociedade, através dos pilares da pesquisa e da extensão. Nesse contexto, o engajamento em atividades diferenciadas, como um estágio em laboratório, em uma empresa, organização não governamental ou empresa júnior é de grande importância para que o aluno possa sair de sua zona unifocal e excessivamente teórica para o desenvolvimento de competências e aquisição de uma rede de colaboradores que lhes ajudarão a interagir com o mercado.

Gostaria de destacar, nesse cenário, a importância das empresas juniores na formação dos estudantes, a partir da minha recente experiência em acompanhar o processo de formação de uma empresa júnior vinculada a uma instituição federal de ensino. Uma empresa júnior consiste em uma iniciativa civil sem fins lucrativos, constituída e gerida por alunos da graduação e que representa um grande laboratório prático do conhecimento teórico e em gestão empresarial, complementando a formação acadêmica, profissional e pessoal do aluno. O objetivo maior de uma empresa júnior na formação acadêmica de um aluno é que esse desenvolva as competências necessárias para o mercado de trabalho através do desenvolvimento de projetos de qualidade a custos acessíveis e competitivos para a sociedade. Uma empresa júnior pode ser criada por qualquer aluno vinculado a um curso de graduação, através da mobilização de uma iniciativa júnior com a orientação de um tutor (que no caso, deve ser um professor vinculado à instituição de ensino) e que conta com o apoio de recursos humanos para orientação e infraestrutura da própria universidade, além de centrais de empresas juniores em nível estadual e federal que auxiliam nas normativas para atuação da empresa e promovem cursos de capacitação dos participantes dessas iniciativas. Seu corpo gestor conta com um conselho de administração, diretores executivos, consultores e trainees, cargos os quais os representantes são selecionados periodicamente por processos seletivos propostos pela própria empresa.

Considerando a urgente necessidade que nossa sociedade apresenta em progredir sob a lógica do desenvolvimento sustentável e responsabilidade ambiental, nada mais interessante do que uma empresa composta por pessoas que apresentam o conhecimento científico referente a área, disposta a fornecer serviços de qualidade e lucrativos para outras empresas. Dentre das possibilidades de atuação em uma empresa júnior para o curso de biologia, pode-se mencionar o biomonitoramento, a educação ambiental, inventário, manejo e conservação de flora, fauna e patrimônio fossilífero, gestão e tratamento de efluentes e resíduos, licenciamento ambiental, restauração/recuperação de áreas degradadas, perícia forense ambiental e inúmeras outras possibilidades. É importante destacar que uma empresa júnior é assessorada por um conjunto de professores que deverão supervisionar as propostas e a execução dos serviços fornecidos pela empresa, garantindo dessa forma, um padrão de alto nível de qualidade.

Diante disso, gostaria de reforçar que as possibilidades de engrenar em oportunidades desde as etapas iniciais de formação na carreira existem, e podem ser levantadas por qualquer um, bastando ter acesso a informação e força de vontade para se mobilizar e ousar. Baseada na minha vivência pessoal, verifico que grande parte dos acadêmicos que conheci ou vi/ouvi contaminar os demais colegas com o discurso do fracasso fatal predestinado aos ingressantes na graduação em ciências biológicas, consistem em alunos que, salvo sob exceções de tragédias pessoais, não se permitiram ter iniciativa e ousar empreender em sua área. Que isso, claro, não soe como uma acusação de caráter determinante, mas intento, modestamente, alertar a todos os jovens iniciantes na graduação em ciências biológicas que saiam da sua zona de conforto, busquem visualizar as oportunidades e possibilidades de atuação na profissão, desde já e não ao final do curso ou quando apenas receberem o diploma.  Mobilizem-se, firmem parcerias, criem projetos, aperfeiçoem-se profissionalmente, busquem dialogar com a sociedade e identificar as suas demandas, busquem visualizar as carências de sua área e propor inovações, ainda enquanto estiverem na graduação sim, pois é possível. Não existem cursos que conduzem ao fracasso profissional e sim pessoas que se permitem caminhar em diferentes sentidos. Finalizo essa postagem com o depoimento de uma representante de empresa júnior do curso de graduação em ciências biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a CBio Júnior:

“Pensar Fora da caixa!” Apesar de ser um clichê, esse é um clichê certeiro.  Sair da zona de conforto é de fato o que precisa acontecer para todos que querem se tornar um excelente profissional, independente da área em que atuam.

O dilema que mais percebo entre meus colegas de curso é o pensamento engessado de que biólogo tem que se isolar em um laboratório de pesquisa e viver de bolsas e ajudas de custo o máximo que puder. Depois tem a obrigação de passar em um concurso público e se nada der certo vai virar professor.

-Mas, minha gente! Pensar assim nos leva aonde? Heim!?

Nos leva a virar praticamente um ratinho de laboratório e tristemente colocar a licenciatura como o único “plano B”, certo?

Porém, nós temos direitos a planos B, C, D, E… e não são planos ruins, são planos ótimos e cabe a nós traçá-los com perfeição.  E é aí que entram as empresas júniores. Ao meu ver,  a Empresa Júnior é uma verdadeira escola que nos ensina a realidade do mercado, nos mostra outros horizontes, nos fazendo pensar melhor sobre quem queremos ser, o que poderemos fazer, e como venceremos os desafios que irão surgir assim que terminarmos o nossa graduação.

Podemos até continuar no meio acadêmico, eu, por exemplo, não me afasto da ideia de lecionar.  Mas penso que também posso atuar em várias outras áreas e que não preciso ter medo de agir, de inovar. Então acredito que a iniciativa júnior é uma injeção de animo que nos estimula a aprender cada vez mais, e a cima de tudo nos prepara para um almejado e real sucesso profissional. “

Jadde Emmylle Moura

Diretoria de Gestão de Pessoas e Marketing – CBio Júnior – UFRN

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 “Muitas coisas não ousamos empreender por parecerem difíceis; entretanto, são difíceis porque não ousamos empreendê-las.” (Sêneca)

Biólogos, empreendei-vos!

Khadija Jobim
Khadija Jobim
Técnica em Controle Ambiental, bióloga e atual mestranda em Sistemática e Evolução (UFRN). Tem interesse em Taxonomia, Ecologia e Evolução de Microorganismos.
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