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Cianobactérias: características e importância ecológica

É fato que esses seres são extremamente importantes no ponto de vista ecológico e evolutivo. Responsáveis pela ciclagem de carbono, nitrogênio e vários outros compostos, bem como entre outros fatores, são uma das linhagens evolutivas mais importantes dentro do subreino Eubacteria.

Características das Cianobactérias

Dentre suas características destacamos a presença de ficobilinas (grupo de substâncias pigmentosas), subdivididos em ficoeritrina (pigmento avermelhado) e ficocianina (pigmento azulado), presença de clorofila a, que diga-se de passagem, ocorre em todos os seres fotossintetizantes, além de presença de carotenóides, responsáveis por fotoproteção.

Um fator interessante é a presença de tilacóides, que são arranjados paralelamente uns aos outros e com isso ocupam todo o tamanho da célula. Essas membranas tilacoidais correspondem aos tilacóides encontrados em cloroplastos dos seres eucariotos, como por exemplo os de algas vermelhas (Rhodophyta), sendo essa divisão uma das mais antigas dentre as atuais algas.

Esse evento reitera a Teoria da Endossimbiose de Lynn Margulis, onde os cloroplastos são resultados do englobamento de uma célula procariótica fotossintetizante (cianobactéria) por uma célula eucariótica heterotrófica e com presença de citoesqueleto, responsáveis pela formação e emissão dos pseudópodes.

Outra característica bem peculiar é a presença de um envoltório mucilaginoso, sendo também denominado de bainha, onde tem a função de manter as células unidas, ou seja manter a adesão entre as células/filamentos, sendo sua composição basicamente constituídas por carboidratos, cuja uma das funções biológicas é justamente a adesão.

A coloração dessa bainha varia em inúmeros tons (de preto-azulado até um tipo de dourado-claro), desmistificando a ideia “ Algas Azuis”, anteriormente utilizada. Em relação as suas formas são encontradas das mais variadas, desde colônias filamentosas a seres unicelulares, exemplificados por alguns gêneros como Calothrix, Oscillatoria e Nostoc.

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Nostoc sp. Fonte da imagem.

Em relação à sua movimentação é interessante pois são realizadas ondas contrácteis devido a extrusão, ou seja, expulsão de mucilagem através de pequenos poros de sua parede celular e com isso giram em torno do seu eixo longitudinal. Importante salientar que nem todas as cianobactérias contém essa capacidade, apenas as filamentosas móveis.

Sua reprodução é bem peculiar, onde ocorre formações de “ponto de ruptura”, denominados Hormogônios, ocasionando o afastamento das células e posteriormente sua fragmentação. Além da presença de esporos de resistência, caracterizados por serem células maiores e mais espessas, denominado de Acineto, importantíssimos para manter a integridade da espécie, visto à ocorrência de  períodos desvaforáveis, como por exemplo calor e falta de água.

Calothrix sp. Fonte da imagem.
Calothrix sp. Fonte da imagem.
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Oscillatoria simplicissima. Fonte da imagem.

Onde podemos encontrar as Cianobactérias?

Bom, esses seres são encontrados em inúmeros ambientes, tanto de água salgada quanto em água doce, ambientes inóspitos enfrentando temperaturas termais (águas extremamente quentes), até regiões frias do globo. Aparecem também em interações com animais, fenômeno denominado epizoísmo, crescendo na pelagem de ursos polares, entre outros seres.

São formadoras também do chamado Perifíton, onde ocorrem inúmeras interações entre cianobactérias e algas marinhas, sendo encontradas em abundancias vivendo sobre gêneros como Ulva sp., Rhizoclonium sp., Bostrychia radicans e gêneros de macroalgas encontrados em região de água doce.

Outro local onde elas ocorrem são em associações com sedimentos calcários, ricos em cálcio, denominados Estromatólitos. Evidências geológicas sugerem que essa interação tenha surgido a aproximadamente 2,7 bilhões de anos. O interessante que com essa interação as cianobactérias, por serem fotossintetizantes, desempenharam uma função importantíssima na elevação dos níveis de oxigênio na atmosfera, contribuindo por exemplo com a camada de ozônio e o aparecimento de seres mais complexos.

Outro exemplo é a interação entre cianobactérias e pólipos de corais, formando os conhecidos Recifes de Corais, encontrados nas grandes barreiras australianas, região do nordeste brasileiro e etc. Essa interação ocorre de forma simbionte, assim como as zooxantelas (Dinoflagelados – Divisão Dinophyta), com o fornecimento de carboidrato resultante da fotossíntese e o pólipo oferecendo proteção devido à sua estrutura rica em carbonato de cálcio (CaCO3).

Podemos encontrar cianobactérias em ambiente terrestre também! Assim como as algas verdes, as cianobactérias podem ser encontradas associadas à fungos, cuja interação é denominada Líquen. Em proporções, a Divisão Ascomycota é encontrada quase que unanimamente, cerca de 98%, com cianobactérias ou com algas verdes, sendo a outra Divisão Basidiomycota apenas 2%. Em relação às cianobactérias o gênero Nostoc, enunciado acima, é o representante. Vale salientar que os Líquens são compostos por fungos associados com algas e fungos associados com cianobactérias, porém não ocorre os três juntos. A interação também ocorre com o ser fotossintetizante doando carboidrato de seu metabolismo para o fungo, que por sua vez serve de proteção.

É interessante salientar a importância das cianobactérias na fixação de nitrogênio, necessário para a síntese de DNA e proteínas, pois compõem as estruturas de nucleotídeos e aminoácidos. Esse fenômeno ocorre devido à presença de  células especializadas denominadas Heterocisto, onde o nitrogênio é fixado a partir do ar atmosférico por exemplo e convertido em amônia (NH3). Essas células contém paredes celulares bem espessas (importante para que não haja difusão de oxigênio para seu interior), contém a presença de uma enzima nitrogenase, que é responsável por catalisar a reação química de conversão do nitrogênio e a ausência de Fotossistema 2, onde não se resulta na formação de oxigênio, através da reação de fotólise da água (Reação de Hill), encontrado comumente em vegetais superiores (Gimnospermas e Angiospermas). Um exemplo de gênero fixador de N2 é o Trichodesmium, ocorrente em oceanos tropicais por exemplo.

Sugestões de leitura :

Biologia Vegetal, Raven – 7° edição
Biologia Vegetal, Lacherre & Roberto
Trabalho de revisão Reflora – Flora do Brasil 2020

Felipe Diniz
Felipe Diniz
Acadêmico de Ciências Biológicas pela UERJ/FFP com grande interesse em docência e divulgação científica. Leciona Química no programa de pré-vestibular comunitário da UERJ e atualmente trabalha com macroalgas bentônicas marinhas e estuarinas.
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