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Entrevista: Prof. Gilson Volpato dá dicas e comenta sobre a produção e redação científica brasileira

Caro professor Dr. Gilson Volpato, novamente obrigado por aceitar o convite de nos conceder uma pequena (e importante) entrevista sobre algumas dúvidas de nossos leitores. Temos certeza que tal matéria será de grande valia para todos que a lerem.

Antes de começarmos a falar sobre a temática proposta, aposto que os leitores gostariam de saber quando surgiu a ideia de cursar Ciências Biológicas e quando começou a se interessar pela redação científica. Poderia nos contar um pouco sobre isso?

Meu interesse pelas Ciências Biológicas começou já no ensino ginasial (fundamental, 5ª a 8ª séries), pois meu professor de ciências era muito bom e usávamos o livro do pai dele (Iniciação Científica) e fazíamos muitas experiências. Como minhas brincadeiras de criança envolviam muito invertebrados de jardim, sempre me inclinei para a área biológica, mas gostava de Direito (achava gostoso discutir). No colegial (ensino médio) fiquei inclinado à psicologia (tínhamos essa disciplina), pois eu já sabia que queria estudar comportamento animal (naquela época queria entender a comunicação dos golfinhos). Mas como psicologia foi uma disciplina apenas no 1º ano do colegial, e biologia se manteve nos 3 anos, acabei escolhendo Ciências Biológicas, que iniciei em 1975, na Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, SP, que se transformou na UNESP em 1976. E na minha carreia estudei comportamento animal, felizmente, entrando mais especificamente na área de bem-estar animal no final de década de 1990.

A redação científica teve outra vertente. Já na graduação em Ciências Biológicas, Licenciatura, entre o 2º e o 3º ano, fiz meu terceiro estágio com o Prof. Katsumasa Hoshino, psicólogo de formação, mas que atuava na área de neurofisiologia. Ele foi meu orientador até o doutorado. O Dr. Hoshino gostava muito de filosofia e metodologia científica e eu me vi impulsionado para essas áreas. Na realidade, comecei a ler um livro de filosofia (Explicações Científicas, de Leônidas Hegenberg); li tudo, mas confesso que não entendi quase nada. Depois disso, em seminários com estagiários do Dr. Hoshino, iniciamos em 1977 a discussão do livro “A Lógica das Descobertas Científicas”, de Karl Popper; não avançou muito, pois era muito difícil. Comecei então a estudar filosofia da ciência lendo os livros que conseguia obter. Minha fantasia, mas apenas fantasia, era que se eu não estudasse filosofia, o Dr. Hoshino não iria querer continuar a me orientar; foi um ótimo equívoco. Em 1981 fui contratado como docente no Departamento de Fisiologia, IB, Botucatu, UNESP, e logo montamos com outros 5 docentes de outros departamentos um grupo para nossa sustentação (principalmente para sobreviver num universo perturbado pela ditadura militar que vivíamos). Fazíamos reuniões (muitas na cidade) e nelas eu gostava de mostrar o que lia sobre filosofia da ciência. Como a redação de teses e publicação de artigos era uma de nossas realidades (embora sem pressões), logo fui percebendo a conexão entre o que discutíamos na filosofia da ciência e a prática científica. Eu tinha vontade, desde criança, de fazer algo grande na ciência, mas foi com os estudos de filosofia da ciência que pude ver o que isso significava.

Portanto, entrei na estruturação dos textos e na redação científica a partir da filosofia da ciência. Eu tentava incorporar o que aprendia nos livros de filosofia com a realidade do fazer ciência e da publicação (sempre fui mais pragmático). Foi fácil perceber que havia certa congruência entre esses campos quando eu olhava artigos de revistas internacionais, mas os artigos publicados no Brasil eram geralmente contraditórios com esses preceitos da filosofia da ciência. Como eu sempre gostei muito de dar aulas, logo que sabia alguma coisa já tentava ensinar alguém. Assim, meu primeiro curso sobre redação científica ocorreu muito cedo (na graduação, em 1986). Minha primeira disciplina de redação científica na pós-graduação foi em 1988. A partir daí essas atividades se intensificaram enormemente. No início, meu curso tinha duração de 1 semana e meia, onde eu enfatizava mais a filosofia da ciência e depois falava menos sobre metodologia e redação científica. Eu acreditava que a falha dos nossos cientistas estava exatamente por não conhecerem filosofia da ciência. Mais tarde, desconfiei que o problema era que não conheciam metodologia científica e reduzi a carga de filosofia da ciência e aumentei a de metodologia. Mais tarde ainda, achei que o problema estava na redação e aumentei esta parte, reduzindo as demais. Mais à frente, já em meados da década de 1990, tinha claro que o problema estava nessas três áreas, sendo elas indissociáveis. Meu primeiro livro nessa área e abordagem nasce em 1998, com a ingênua expectativa de que com ele meus cursos reduzissem (eu achava que estava viajando demais!)… mas aumentaram vertiginosamente.

Para esclarecermos de uma vez por todas essa confusão que existe no meio acadêmico: qual a diferença entre pesquisador e cientista?

Para responder, é preciso que todos saibam exatamente o que podemos entender por ciência. Fazer ciência implica usar o método científico, mas isso não basta. Inicialmente, vou reduzir o método científico a seu mínimo, que é a necessidade de usar pistas das bases empíricas (fatos, qualitativos ou quantitativos) para construir conhecimento, considerando que essas pistas não podem ser apenas do cientista, mas devem ser possíveis de serem acessadas e aceitas por outros cientistas. Acrescente a isso a necessidade do método científico construir generalizações que nos permitam entender o mundo. Para essa finalidade, há uma série de estratégias que a metodologia científica nos fornece. Com esse conceito, exceto pela construção de generalizações para entendermos o mundo, todas as outras partes são usadas em diferentes atividades humanas, mesmo que não científicas. Por ex., o mecânico de automóveis, o eletricista, o médico na clínica, o advogado, o agricultor… todos eles usam, em certa medida, as evidências factuais e constroem algum tipo de conhecimento que os permite agir. Para isso, usam, mais ou menos, o método científico. O que os diferem de um cientista não é o uso sistemático do método e nem o assunto de que tratam.

Agora vamos olhar a ciência não pelo método mais específico que relatei, mas pelo conhecimento produzido. Vamos considerar a ciência como um conjunto de conhecimentos que explicam e nos fazem entender o mundo. Quando falo em mundo, me refiro ao mundo físico e biológico. Não separo em ciências naturais e ciências sociais ou ciências humanas, pois todas têm como objeto de estudo elementos do mundo. Assim, uma pedra, um peixe, as nuvens, as pessoas, a sociedade humana e tantas outras coisas fazem parte do mundo natural (não são do mundo sobrenatural). Acho muito arcaica e equivocada a divisão em ciências naturais, pois tratam o homem como um ser fora desse mundo natural; devemos lembrar que o mundo natural deve incluir não apenas “natureza”, mas natural. Afinal, muitos falam em artificial x natural a partir de uma visão antropocêntrica que coloca a produção humana como referencial, em referência à produção de outros organismos. Além disso, a maior complexidade humana é apenas porque somos humanos e vemos detalhes que não enxergamos em outras culturas animais. Enfim, parece razoável falarmos que a ciência estuda o mundo, mas sua abordagem empírica nos impede de usar o método científico para estudar aquilo que não temos pistas razoáveis e que se supõe possa existir no mundo. Essa é a frieza da ciência, mas ela aceita que possa incorporar outros elementos do mundo, conforme o conhecimento se desenrola.

Imagine agora essa “nuvem de conhecimento científico”, que não é estática, mas muda e aumenta em complexidade com o passar do tempo. E, por uma abordagem simples, quem constrói essa nuvem são cientistas (de carteirinha, ou não; mas de mentalidade científica). Para isso, usará o método científico, mas terá que usar o conhecimento obtido para adentrar nessa nuvem e colaborar nela com sua construção continuada. Na realidade é uma nuvem que todos os cientistas usam. Por ex., se tirarmos do Brasil todo conhecimento vindo de fora, o país morre. Ou seja, a nossa nuvenzinha é insuficiente para a nossa sobrevivência. Assim, é razoável que colaboremos construindo conhecimento para essa nuvem ou modificando o que lá está.

Portanto, até o momento assumi que o cientista usa o método empírico e constrói conhecimento novo sobre o mudo, conectando-o de forma integrada nessa rede de conhecimento científico pré-existente. Essa conexão integrada pode ser por modificação, fortalecimento ou mesmo substituição do que lá existe. Isso tudo é muito simples e intuitivo e é a tarefa fundamental do cientista.

E o pesquisador? Ora, ele faz pesquisa. A pesquisa é um meio para responder perguntas. Pode usar diversas metodologias, inclusive a científica. Por ex., eu posso usar o método científico para mostrar que determinados setores da indústria estão vendendo alimentos estragados; ou para mostrar que uma indústria está poluindo um rio. Podemos fazer uma pesquisa eleitoral, uma pesquisa sobre perfil de clientes etc. E para que sejam bem feitas, usamos o método científico, mas isso não se transforma automaticamente em conhecimento científico de interesse para a nuvem hipotética acima referida.

Então, qual a diferença entre cientista e pesquisador (considerando aquele que faz pesquisa na área científica)? É simples: o pesquisador faz pesquisa e resolve enigmas pontuais, enquanto o cientista faz a mesma coisa, mas usa as soluções pontuais para construir conhecimento geral que nos coloca melhor posicionados para compreendermos o mundo. [Aqui não é uma analogia aos conceitos de ciência normal e ciência revolucionária de Thomas Kuhn]. Enquanto um pesquisador pode testar uma técnica de ensino em suas aulas e perceber que melhorou o aprendizado dos alunos, o cientista usa essa experiência para propor novas metodologias para a grande população de alunos. Esse salto exige um conhecimento mais profundo das técnicas metodológicas e epistemológicas. Por isso vejo que muitos de nossos “cientistas” ficam publicando casos particulares, mas não se arremessam no grande desafio intelectual de propor ou entrar nas grandes generalizações. E não fazem isso porque não têm formação epistemológica suficiente e ficam com medo de generalizar, ou mesmo generalizam onde não podem.

Quando o cientista avança da pesquisa particular para a generalização maior, ele não apenas resolve uma questão local, como dá a outros a chance de usar aquele conhecimento em outros locais a partir da generalização feita. Eu posso estudar agressividade de alguns animais em minha cidade, mas posso com isso dar respostas interessantes sobre o processo da agressividade animal, o que será colocado naquela nuvem que falei e poderá dar insights e ferramentas para pessoas de lugares que nunca estive e nem nunca estarei. Veja, por ex., que Freud estudou pessoas, mas criou uma grande teoria (assim como Darwin, Einstein etc.). Pessoas de regiões que esses cientistas nunca estiveram se valeram de suas conclusões. Em minha opinião, essa é a diferença fundamental, e que guia nossa práxis, em relação a ser cientista ou ser pesquisador. Não precisa ter profissão de cientista, basta ser cientista, pois sua profissão já existe em diversos formatos. Assim, acho que mais do que profissão de cientistas, precisamos mesmo que nossa pós-graduação comece a formar mentalidade científica em nossos alunos (a falácia da profissão do cientista é patente). Isso mudaria tudo! O drama da publicação internacional começa a se resolver também por aí.

Professor, o Sr. tem um nome muito respeitado no cenário de produção científica brasileira e internacional. Em sua opinião, quais serão os principais reflexos da crise econômica brasileira na produção científica brasileira?

Lógico que nos faltará verba, mas esse é o menor dos problemas. O principal dessa crise é a constatação, mais uma vez, da pouca importância que nosso grupo de políticos dá à ciência. Afinal, cortes de verba recaem sempre sobre as atividades menos valorizadas. Feita essa ressalva, primeiro mostro nossos equívocos na administração de ciência no país para depois falar do lado positivo da crise financeira na ciência brasileira.

Enquanto nossa preocupação for mostrar que somos bons, da mesma forma como um pesquisador fraco busca corroborar sua hipótese, não faremos o diagnóstico correto e, portanto, as decisões serão equivocadas. O investimento em pesquisa no Brasil parece que tem cometido alguns equívocos. Embora tenhamos melhorado um pouco, em 2013 fomos o 50º, de 53 países, na relação entre investimento em ciência e desenvolvimento e publicação em revista de alto prestígio (pesquisa a partir do Índice Nature). Esse quadro refletiu apenas que somos um país que não respira ciência, muito menos ciência de boa qualidade. Lógico que alguns gestores de ciência preferem olhar para grupos restritos que fazem ciência exemplar e generalizar para o Brasil. Mas isso não é Brasil. Como também não é Brasil caso ganhemos o Nobel com gene brasileiro e formação no exterior. O que a pesquisa do grupo Nature revelou é que estamos gastando muito para fazer pesquisa sem conseguirmos adentrarmos o meio internacional de prestígio. E adentrar esse meio não é vaidade acadêmica; refletiria uma base científica mais sólida em nosso país. Se tivéssemos um ambiente que “respire ciência”, nossa chance de produzir excelências seria muito maior. Mas o foco tem sido o da aparência.

A partir do final da década de 1990, começamos a investir mais pesado em visibilidade da ciência brasileira. A eficiência desse processo, sem o correspondente aumento da qualidade de nossas pesquisas, deu visibilidade a muitos equívocos. Retardamos nosso desenvolvimento científico por fazermos nossa comunidade acreditar que somos bons. Isso resultou num cenário de algo em torno de 7 mil revistas científicas que absorviam quase que exclusivamente as nossas pesquisas. Na prática, pouco disso sobreviveu, mas muitos foram enganados achando que estavam fazendo ciência de bom nível (o Lattes dava visibilidade a isso e avaliações equivocadas reforçavam esses equívocos). Muita injustiça de avaliação ocorreu (e ainda ocorre) e essa breve história fez o Brasil perder a bola da vez numa janela que se abriu nos últimos 15 a 18 anos. Outro grande investimento nacional foi a coleção Scielo. Ela nos deu muita visibilidade, mas não triou as pesquisas publicadas (apenas o perfil das revistas), o que mostrou ao mundo o quanto nossa ciência (incluindo a comunicação científica) é também ruim. Tivéssemos incentivado mais a ciência no âmbito internacional, sem medo de figurões perderem seus postos nacionais, ou de iniciantes perceberem que têm muito a melhorar, mais os pesquisadores brasileiros teriam ganhado e, com isso, o Brasil. Em 1998 já publiquei um quadro triste da ciência nacional, mas membros da CAPES alegaram que isso não ocorria nos cursos de excelência!

Esse equívoco estratégico colocou uma enorme barreira para o pesquisador brasileiro. Não faltaram, e não faltam, professores e orientadores ensinando equívocos. Afinal, se nossos formadores fossem bons, por que nossos alunos teriam tanta dificuldade em construir ciência de bom nível e discutir isso com os melhores do mundo? Não há vergonha para esses professores, pois são efeitos de uma história de gerenciamento equivocada, visando principalmente acumular resquícios de competência para sustentar a imagem de que nossa ciência é de bom nível.

Nessa escalada, houve o momento de glória, mas estamos agora na decadência. Isso torna nossa pesquisa muito cara, pois temos ainda a política de que todos devem ganhar um pouquinho, mesmo quando o ganho vem de dinheiro público. À medida que o governo entra em falência econômica, o sistema de pesquisa fundado no financiamento público igualmente sucumbe. Sim, haverá cortes e muitos não terão dinheiro para fazer pesquisa ou sobreviver da pesquisa; e também não terão competência para buscar dinheiro em outro lugar (meio empresarial ou financiamentos no exterior).

Agora começa o lado bom da falta de verba para pesquisa. É nos momentos de crise que temos que explorar toda a nossa capacidade criativa para que de menos façamos mais. É aí que entra a noção de economia, que se coaduna com posturas de eficiência (produto dividido pelo gasto). Mas é aí também que entra a competição mais acirrada, que hoje parece ser algo politicamente incorreto (acho que os menos dotados é que definiram isso). Não há tempo para que todos tenham a mesma base para então começarmos avaliar nossa ciência. Ao entramos no mundo, ninguém perguntará de onde viemos. Aí nosso passado equivocado terá um enorme peso. Mas não adianta olharmos esse passado, que premiou errado, e cortarmos nossos pulsos. Temos uma situação real e presente que deve ser enfrentada. A falta de verba, que é real, mesmo que os motivos alegados não o sejam, deve ser enfrentada e talvez seja a nossa grande chance de não repetirmos o erro do passado. O dinheiro deverá ser mais bem distribuído, melhor investido (o que exigirá mudança de percepção sobre avaliação de projetos e escolha de pessoas). O crescimento de um universo de ciência não deverá parar, mas deverá andar para a direção mais propícia. É na crise que o menor erro é potencializado, requerendo da comunidade e dos gestores investimentos mais bem pensados. Esse é, então, um momento duro, mas de crescimento de nossa qualidade. Não serão todos vitoriosos, mas se tivermos bons vitoriosos, todo o país ganhará. Se nossos vitoriosos forem como os equivocados do passado, o Brasil apenas continuará sua farsa, tendo perdido, mais uma vez, a janela do tempo.

Qual o perfil esperado de pós-graduandos para uma Ciência futura mais produtiva e efetiva?

Nessa questão, a palavra “futura” é fundamental. A maioria dos formadores de cientistas no Brasil ainda não sabe o que é um cientista ou investe num formato restrito de cientista. Não se trata de que cientista queremos, mas de qual cientista precisaremos nesse futuro. Quais são nossos referenciais de ciência produtiva e efetiva?

Hoje a formação de pesquisadores pela pós-graduação está centrada na produção de artigos (raramente de livros ou outras produções). Ou seja, está centrada na divulgação da ciência produzida entre os pares, particularmente num ambiente internacional para muitas áreas. Não há nada de errado nisso, exceto pelo fato de que tudo convirja apenas para isso. Ser um cientista é condição necessária para obter o doutorado; mas, como mostrei acima, estamos geralmente formando pesquisadores e não cientistas. E o problema é ainda bem maior do que esse.

A formação desses doutores tem primado pela formação de um especialista exagerado. Isso não é ruim se considerarmos as publicações. Mas essa formação nem forma um grande cientista. Nos grupos mais produtivos, principalmente aqueles de nota 6,0 e 7,0 pela CAPES, ainda se prioriza muito a formação no sistema de produção em série. O aluno na IC é orientado pelo mestrando, o qual é orientado pelo doutorando, que recebe orientação do pós-doc, o qual geralmente tem mais acesso ao Deus orientador.  É, sem dúvida, um sistema que funciona quando focamos mais na produção das publicações e menos na formação dos alunos. Nesse sistema, algumas pessoas bem preparadas acabam aprendendo bem e se dão bem na carreira. Mas outras, menos felizes nessa história anterior, se dão mal e tentem a desaparecer do sistema (mas já deixaram sua contribuição, ironicamente, na forma de coleta de dados ou lavagem de material). Então, vejo que se trata de um sistema que dá chance de você se formar bem, mas que não o forma. Embora isso tudo não seja descabido, o número de pessoas que conseguem se transformar em cientista de bom nível me parece muito pequeno, dado meus contatos com alunos de diversas áreas, níveis, instituições e localizações no Brasil. O desejado é que o sistema de pós-graduação seja um sistema transformador, como deve ser qualquer escola.

Outro ponto complicado desse sistema de pós-graduação é que tem produzido o que chamo de “coisificação” do cientista. O aluno muitas vezes participa de um grande projeto, faz sua lição de casa, mas não visualiza o processo maior. Depois, publica numa grande revista, fica feliz, mas não percebe que não teve a chance de participar de toda a história, ou mesmo de discuti-la com os grandes da equipe. Lógico que os grandes coordenadores de equipe gostam de ter pessoas assim, pois coletam bem os dados e trazem literatura interessante. Mas a vida desses coitados ficará impulsionada enquanto a publicação na grande revista (Science ou Nature, por ex.) fizer efeito, mas morrerá cientificamente se não tomar o pé da atividade científica quando tiver que tomar suas próprias decisões na administração científica de sua linha de pesquisa. Ou ficará submetido a um “eterno mamar” no orientador.

Partindo do background que resumi acima, vamos agora pontuar minha resposta à pergunta. O sistema de ciência de um país possui gestores, estejam eles na coordenação de programas de pós-graduação, na chefia de departamentos, direções ou reitorias de universidades, ou ainda em instituições de fomento e órgãos mais gerais como CAPES e CNPq. É esse conjunto de gestores, principalmente influenciados pelos de fomento e membros participantes de CAPES e CNPq, que definirá a política científica do país, passando pelo olhar da política vigente do Estado. Não é um grupo pequeno e tampouco perene. Ele é substituído, em algum setor, quase que continuadamente.

Voltemos à palavra “futura” presente na pergunta que estou respondendo. Para isso, voltemos ao cenário que trilhei e o que podemos imaginar que será nosso futuro. Cientistas altamente especializados, cada vez mais trabalhando em equipes cujo convívio e integração ocorre principalmente na lista de autoria dos artigos, teriam as habilidades necessárias para pensarem grandes temas de ciência nacional, grandes estratégias globais e caminhos educacionais para um país? Afinal, saberiam o que é educação? Teriam condições de entender o que eu entendo, e porque proponho, a formação de um “cientista educador socialmente engajado”? Essa visão restrita estaria suficientemente preparada para enfrentar uma globalização ainda maior e mais real que se espera aconteça num breve futuro?

Minha resposta a essas indagações é um sonoro NÃO. Acredito que imporiam visões restritas, onde filosofia e educação seriam temas do passado. Seriam técnicos de uma especialidade (com um currículo gordo de publicações) tentando resolver questões que extrapolam em muito essa especialidade e que requerem uma formação filosófica, sociológica e educacional muito mais ampla. Meu temor é que os cientistas de formação mais ampla estejam acabando e isso coloque nossa sociedade em risco. Medidas técnicas prevalecerão sobre posturas mais bem contextualizadas, num universo mais amplo de análise que valorize a dimensão tempo (para trás e para frente). É esse cientista que precisamos formar, com a expectativa de termos pessoas mais sábias para tratarem da nossa ciência num breve futuro. Mas é esse cientista que está sendo morto pela leva de produtivistas que entram dia a dia nas universidades, produtos de uma pós-graduação ineficiente e equivocada. De meus estudos, vejo que um cientista deveria experenciar, já na pós-graduação, ao menos 30 habilidades que nos honraria dar-lhe o título de Doutor. Hoje apenas cerca de 4 delas são enfatizadas pela pós-graduação. Para acalmar o ânimo dos produtivistas, até nossas publicações seriam de melhor nível neste perfil mais holístico. Esse é o profissional que já falta e continuará faltando caso a pós-graduação não sofra uma profunda reestruturação filosófica e prática.

Quais as dificuldades que os pesquisadores e cientistas brasileiros encontram para divulgar seus resultados para a população leiga?

A conversa com a população leiga exige do cientista entendimento profundo sobre sua pesquisa para conseguir transportá-la para uma linguagem simples, mas não necessariamente rasa, equivocada ou midiática. Explicar com clareza exige conhecer muito bem a estrutura daquilo sobre o que falamos. Conversar com o especialista é fácil, pois ele já sabe várias coisas. Mas essa conversa com o especialista pode ser enganosa. Eu costumo perceber o quanto a pessoa entende do assunto quando a vejo explicar esse assunto para pessoas fora da ciência. Pode parecer paradoxal, mas não é. A pessoa que realmente entende de seu trabalho consegue discernir os detalhes da ideia central e coloca-la numa linguagem que qualquer ser humano minimamente inteligente conseguirá entender. Os problemas que travam nossos pesquisadores nessa conversa mais simples podem estar ao menos nos seguintes setores: a) crença de que coisas complexas requerem palavras complexas; b) falta de clareza sobre o próprio estudo; c) falta de compreensão sobre os fenômenos que estuda, recaindo apenas nas técnicas e detalhes operacionais da pesquisa; d) falta de uma visão geral, com estudos em diversas áreas, o que torna sua pesquisa algo extremamente pontual e fora de contexto para muita gente do meio não científico; e) baixa empatia – i.e., por não conseguir se colocar no lugar do receptor (ouvinte), não consegue imaginar como o receptor poderia interpretar a mensagem; f) crença de que todos enxergam o mundo da forma como ele vê; entre outros.

Durante as pesquisas, particularmente na pós-graduação, o linguajar é tão viciado (tanto pelos assuntos quanto pelo vocabulário e público) que pouco se exercita a conversa mais aberta sobre o estudo. A falta de conexão de questões específicas investigadas com fenômenos ou problemas mais gerais também pode levar o pesquisador a não conseguir se expressar fora da ciência.

Leitura de textos de divulgação, particularmente em sua própria especialidade, pode ajudar pesquisadores de boa intenção a encontrarem formas interessantes de comunicação em sua área. É uma questão de treino, mas que requer vontade. Para isso, reconhecer que essa conversa é importante para formação da própria população é fundamental. Com isso, não estamos fazendo pagamento pelo investimento social, mas uma etapa importante da implantação do conhecimento científico na população em geral.

Parte dessa conversa com a comunidade leiga tem sido feita mais diretamente a partir de jornalistas. Porém, esse processo será mais bem conduzido se o cientista estiver bem próximo dele. Na prática, alguns cuidados devem ser tomados para que sua história não seja comunicada com muitos equívocos. Uma forma é solicitar, sempre que possível, que você envie a entrevista por escrito (e-mail, por ex.). Certamente isso vira um documento que o jornalista terá que respeitar, pois você pode recorrer caso algo saia muito fora do correto. Os jornalistas têm se esforçado para melhor entenderem o pesquisador, pois sabem que é uma área de grande interesse para a população. Mas essa formação é complicada, pois ela deveria atender não apenas a dar elementos básicos para o jornalista entender o pano de fundo da especialidade, mas também para ter uma formação científica (metodologia e filosofia da ciência) mais abrangente, o que lhe possibilitaria entender melhor como o conhecimento científico é construído. Isso reduziria muitas interpretações errôneas ou distorcidas que temos visto nos meios de comunicação de massa.

De maneira geral, qual a importância da escrita na vida do cientista?

Ela é parecida com a importância do oxigênio para nós. Hoje, mais do que nunca, o debate na ciência se dá por meio da escrita. No futuro talvez penda mais para o lado da fala, como algumas tendências em revistas científicas nos permitem supor. O debate científico não é centrado no congresso científico e nem nas mídias sociais. Ela ocorre por meio da publicação.

A publicação científica depende principalmente da qualidade da pesquisa e da ciência produzida. Uma das primeiras questões que os revisores de manuscritos devem responder é sobre o ganho que ocorrerá (para a revista, para a área e para a comunidade em geral) caso o trabalho seja publicado. Isso é o que sustenta. As boas revistas não deixarão de publicar uma boa ciência simplesmente porque o manuscrito está mal escrito. Eles tentarão ajudar o que for possível para que consigam transmitir satisfatoriamente aquela notícia à comunidade científica (não entregarão para a concorrente).

A escrita entra nisso, em primeira instância, como o meio que fará com que os avaliadores (editores e revisores) consigam entender plenamente sua pesquisa e porque ela deve ser publicada. Erros aí já tiram o trabalho daquele veículo. Mas note que a escrita nem é o principal problema do brasileiro; o principal é a estruturação do artigo. Eles invertem tudo o que podem em nome de um procedimento que chamo de “cópia medular” (i.e., cópia sem que a informação seja adequadamente processa pelo córtex cerebral = ele copia sem pensar). Fazem isso assumindo os vícios e costumes equivocados da área, mas muitas vezes tornando-os mais equivocados ainda. Nos artigos, vemos introduções que não introduzem o estudo, procedimentos que não conseguimos entender na primeira leitura, resultados em excesso (parece mais relatório do que artigo) e Discussão que não discute o que deveria, além das conclusões óbvias (me too studies).

Numa segunda instância, a escrita (ou redação, que inclui mais diretamente a escrita e a construção lógica da argumentação) entra como estratégia de conversa com o leitor. Não é apenas para que o leitor goste do seu artigo. É, no mínimo, um respeito com o leitor e uma valorização do seu trabalho. Meu primeiro artigo que publiquei como autor principal (mas principal de fato, apenas com meus orientandos) saiu numa revista nacional ruim, que nem existe mais. Passaram tantos erros que tenho vergonha quando alguém pede esse artigo (eu penso… esse não, serve outro?). Mas, publicação é publicação e deve ser perene. Portanto, capriche muito. As revistas boas ajudam nisso; as ruins atrapalham, pois obrigam o autor a errar como os editores e os revisores. Mas não é maldade dessas pessoas, é falta de conhecimento. Lembremos que redação científica é uma especialidade e não um setor em que todo mundo mete o bedelho. É necessário estudar e acompanhar a evolução, num processo balizado pela formação científica e comunicacional do escritor.

Outro aspecto importante da boa redação é que no mundo de hoje há excesso gritante de publicações. Esse cenário requer grande responsabilidade do cientista, particularmente na construção de títulos, resumos, figuras e tabelas, que são os elementos fundamentais para levar o leitor ao texto principal.

Nesse ambiente, o que tenho percebido é que pesquisadores fracos têm relegado a construção de seu discurso a empresas e profissionais liberais. Esse é um grande equívoco. Pagar para aprender é uma coisa; terceirizar o cérebro é outra. Isso segue na mesma tendência das terceirizações das análises estatísticas. Deveria ser uma vergonha para o cientista. Afinal, delegar elementos essenciais (análise de dados e construção do discurso) equivale a se colocar na posição de mero músculo a serviço de cérebros alheios, sem ter capacidade para entrar na esfera científica requerida de todo cientista. Infelizmente, isso está cada vez mais presente na formação científica, desde muito cedo até a morte dos pseudocientistas. Um cientista que se preze desenvolve seu discurso e sabe defende-lo com argumentação sólida. Nossos cientistas, sejam orientadores ou alunos de graduação ou pós-graduação, ainda têm dificuldades (em diferentes graus) nessa tarefa. É flagrante a casca científica que alimentamos com dinheiro público e a baixa expectativa de tirarmos o país de um rebaixamento científico irreversível.

O Sr. desenvolve um trabalho muito interessante chamado Clube SOS Ciência. Além disso, produziu alguns livros sobre redação científica. Poderia nos falar sobre ambos?

Faço isso e ainda participo de alguns outros setores na internet com a crença de que consiga ajudar a população brasileira a ampliar o número de cientistas, buscando reduzir o percentual de doutores que são meros pesquisadores. Tenho convicção de que um país alicerçado na ciência e na educação prosperará e dará a seu povo melhores condições de vida. Isso se coaduna com o que tenho falado mais recentemente: “antigamente eu queria mudar os políticos… hoje quero mudar o povo; políticos serão consequência.” Gosto muito de ensinar (qualquer coisa que eu saiba) e isso me motiva. Essa é a força que me faz acreditar que conseguirei contribuir com o avanço do nível científico e educacional do brasileiro.

A área de redação científica sempre foi meu hobby. Nessa trajetória, ministrei meu primeiro curso de redação científica na graduação em 1986; na pós-graduação em 1988. Desde então os cursos formam ficando mais conhecidos e rapidamente aumentando em número. Em 1998 publiquei meu primeiro livro (Ciência: da filosofia à publicação), no qual sintetizei as principais noções sobre o ser um cientista, e com a ingênua ideia de que reduziria minhas viagens e faria um serviço mais amplo. As viagens só aumentaram (cheguei a ministrar 80 cursos num único ano). Atualmente, recebo cerca de 150 a 200 convites por ano, mas só posso atender uns 50. Depois desse livro vieram outros e outros… a cada necessidade das pessoas que eu sentia, escrevia um livro para suprir. Hoje tenho uma lista de uns 20 livros para escrever (o que começo a fazer de forma mais intensa a partir de meados deste ano, quando começo a me desligar da UNESP). Penso no tema ciência, redação, publicação, metodologia e educação a maior parte do tempo, não importa aonde eu esteja. Isso faz brotar muito mais ideias do que consigo levar, mas com uma boa triagem tenho conseguido montar um sistema que funciona e que pretendo aperfeiçoar ainda neste ano.

Essas iniciativas, acrescidas da internet (site, Youtube, Twitter e Facebook), são expressões de uma vontade muito grande em transformar nossa ciência. Talvez eu passe uma imagem de alguém muito crítico com a ciência brasileira, de alguém que não gosta do Brasil. Mas nem de longe isso é verdade. É por gostar deste país e ver que tem boa ciência que fica escondida atrás de textos horríveis, assim como tem ciência mal feita, que me faz querer acelerar um processo que talvez leve ainda muito tempo. Sou exigente e isso torna o caminho mais árduo. Não sou de puxa-saquismos, de dar tapinhas nas costas dos poderosos para conseguir apoio. Faço o que acredito, doa a quem doer. Também não sou carreirista e nem produtivista… faço a ciência que me dá prazer, o que aprendi com o meu orientador. Meu discurso é científico, não político. Isso tem um custo (curricular), que é o custo que sempre tive em minha carreira, mas é um custo que vale a pena pagar. Prefiro estar ao lado de quem precisa do que abanando um sistema elitista de produção e sustentação de nossa ciência. Foi essa determinação que me fez trabalhar incisivamente nesse cenário. Como os produtos disso eram animadores, cada vez mais meu hobby foi se transformando em atividade profissional. Esse quadro me levou a construir produtos como livros, vídeos, palestras e intermináveis respostas sobre dúvidas. Faço toda essa parte acadêmica praticamente sozinho, exceto a divulgação que é feita principalmente pelas pessoas que gostam do meu trabalho. É uma equipe não formalizada entre eu e essas pessoas, às quais sou eternamente grato e sem as quais meu trabalho não existiria. A partir de meados deste ano (2016) profissionalizarei esse quadro.

Foi nesse ambiente que veio a ideia do Clube SOS Ciência. Eu não queria um Blog, onde todo mundo entra e dá palpite (é bom, mas já existe e, muitas vezes, é muito poluído – quase uma Torre de Babel). Eu queria um setor como se fosse uma sala de aula e imaginei o Clube com esse perfil. No Clube já tem quase 8.000 pessoas cadastradas. Basicamente o Clube SOS nasce da percepção de que nossa ciência está mesmo enferma. É um pronto-socorro, pois o quadro é triste. Por isso fico irritado com nossos gestores de ciência, que querem fazer de conta que está tudo bem. Está terrível e cada vez mais alunos entrando nesse sistema e sendo deformados, levando para longe o sonho de serem cientistas de bom nível internacional. A impressão que tenho é que para muitos de nossos gestores de ciência e tecnologia bastam números que elevem a visibilidade brasileira no exterior. Números podem ser conseguidos por poucos grupos de excelência, o que representaria um enorme elitismo na produção da ciência brasileira. Vejam quantas universidades temos, entre públicas e privadas. Tudo isso gastando, de alguma forma, dinheiro público ou dinheiro de brasileiros. Isso tem que ser modificado. Há doutorandos de certas áreas muito competitivas que sabem que, se não forem contratados em instituições de certos locais, não permanecerão na corrente forte de sua especialidade. Isso é triste. Será sempre uma realidade, mas que pode ser amenizada.

O Clube SOS Ciência entra exatamente nisso. Indiretamente, tenho ajudado pessoas das regiões mais longínquas do Brasil. Mas não é uma ajuda simplesmente porque ela comprou meus livros, ou viu meus vídeos. É uma ajuda tête à tête! Eu respondo a 99,99% das perguntas do Clube SOS Ciência.

A participação no Clube SOS Ciência é gratuita e espontânea, mas exige duas coisas: a) cadastro com poucas informações sobre o perfil profissional, que me orienta quando respondo a alguma pergunta dos associados (por ex., saberei que linguajar usar, que é diferente para um aluno de IC e um orientador, bem como posso dar exemplos da área da pessoa); permitir acesso para que o Clube se comunique com o associado via email (informado no cadastro). Até este momento, já respondemos há mais de 800 perguntas, sendo que pouco mais de 560 estão disponibilizadas para todos os associados. Nessa disponibilização não constam dados de quem fez a pergunta, mas consta o nome de quem a respondeu. A participação no Clube SOS Ciência é livre e o associado pode se desligar quando quiser, mesmo sem justificativa. Enfim, um espaço para conversarmos, como numa sala de aula (embora mais demorado!).

Além dessa seção de perguntas e respostas, enviamos links e materiais de interesse para os associados. Cada associado pode, a qualquer momento, anexar algum material que julgue importante para outros associados, ou que explicitamente queira a nossa opinião. Cada anexo passa antes pela minha leitura e comentários (mas não triagem), uma vez que a filosofia do Clube está pautada no trabalho que coordeno e acredito que o associado espere algo nesse sentido.

O Clube SOS ciência iniciou com palestras ao vivo. A ideia era ampliar e criar como se fosse um canal de TV (usava um site americano muito bom nisso). Mas muitos associados solicitaram que as exposições ficassem mais disponíveis no tempo. A partir daí, comecei a disponibilizar as gravações, mas, pelo espaço disponível, só podia permitir uma palestra por dia. Mias tarde, consegui aumentar para algumas apresentações (cerca de 5 a 6 palestras) liberadas de segunda a sábado. A partir de final de fevereiro de 2016 consegui mais espaço e estrutura e todos os vídeos estão agora disponíveis 24 h por dia, todos os dias. Temos atualmente 30 vídeos. São vídeos mais profundos e detalhados sobre o processo de ciência, redação, metodologia e outras atividades intrínsecas à vida de um cientista. Esses vídeos não ficam em meu canal do Youtube; são exclusivos do Clube SOS Ciência.

Infelizmente, vejo colegas de alto gabarito científico, mas que não se dedicam para socorrer a pobreza científica do Brasil; preferem continuar publicando para uma carreira que certamente não significará muito para a ciência mundial, mas talvez renda uns louros pessoais. Cientista de bom nível tem que se voltar também para o ensino do fazer ciência, do ser cientista, da metodologia e da comunicação científica (não bastam apenas seus bolsistas). A prática como cientista não deve parar, mas a outra tem que começar. Como isso não é feito, ou quando é feito é apenas para a elite que menos precisa disso, muitos pesquisadores bem intencionados, mas profundamente equivocados, assumem o ensino da metodologia e comunicação científica, matando a ciência nacional.

Para finalizar, se pudesse dar apenas um conselho para que os graduandos que estão lendo esse post se tornem bons pesquisadores e/ou cientistas, qual seria?

Esse é um monstro que não matamos com uma única bala, mas vou tentar focar no essencial. Reflita: um especialista sem visão geral é um kamikaze contra a sociedade. O seu guia para tomada de decisões na ciência e na especialidade está, principalmente, nos seus estudos sobre filosofia da ciência, epistemologia, lógica, ética, educação e administração. Seja autodidata nessa busca e não se contente em ser mais um, mas queira mudar mundo.

Acesse o site do professor Gilson: http://www.gilsonvolpato.com.br
Participe do Clube SOS Ciência: http://www.gilsonvolpato.com.br/clubesos.php

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Gustavo Urbieta
Gustavo Urbieta
Biólogo, entusiasta na ecologia de morcegos e no ensino de ciências, com amplo interesse em sistemática, ecologia de comunidades e biologia animal.
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