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Seleção Natural e Adaptação – Resumo com exemplos

Juntamente com a deriva genética, migração e mutação, a seleção natural é um dos mecanismos básicos da evolução. Esse conceito, proposto pelo naturalista Charles Darwin, é muito simples, embora seja constantemente mal compreendido pela maioria das pessoas. Para entendê-la, veja o exemplo de seleção natural logo abaixo.

Imagine que em uma floresta há uma população de besouros:

1 – Há variação genética.

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Durante a formação dos gametas, nos sabemos que existe o crossing-over, um mecanismo de recombinação genética responsável pela variabilidade genética dos indivíduos. Além disso, há ainda mutações constantes que podem provocar alterações genéticas nas populações. Desse modo, nenhum indivíduo numa população é idêntico ao outro. No nosso exemplo, alguns besouros da população são verdes e outros são marrons, por simples variação genética (assim como alguns de nós somos pardos, negros, brancos etc).

2 – Há reprodução diferenciada.

selecao-natural-exemplos-resumo-bComo o meio ambiente não pode suportar crescimentos populacionais ilimitados, nem todos os indivíduos conseguem reproduzir usando todo seu potencial. Nesse exemplo, besouros verdes tendem a ser comidos por pássaros, logo, sobrevivem para reproduzir em menor frequência que os besouros marrons. Predadores que se alimentam de besouros verdes acabam modificando o pool gênico da população, fazendo com que os genes para a cor marrom prevaleçam cada vez mais nessa espécie, enquanto os genes para a cor verde tendem a desaparecer ao longo do tempo.

3 – Há hereditariedade.

selecao-natural-exemplos-resumo-bOs genes que proporcionam a cor marrom se tornam mais presentes na população, já que os besouros marrons sobreviventes terão filhotes desta cor. 

4 – Resultado final:

selecao-natural-exemplos-resumo-bO traço mais vantajoso, a coloração marrom, que permite que os besouros tenham maior sobrevivência e se reproduzam mais, se torna mais comum na população. Se esse processo continuar, eventualmente todos os indivíduos da população serão marrons.

Com este exemplo de seleção natural, podemos entender que a evolução só acontecerá se houver variabilidade genética, reprodução diferenciada e hereditariedade. Simples assim.

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Seleção Natural em funcionamento

Se você pegar qualquer livro de grande porte sobre história natural, vai ficar encantado com as fotos brilhantes de página inteira mostrando adaptações incríveis produzidas pela seleção natural. Cientistas possuem um repertório imenso com muitos exemplos de seleção natural, como os exemplos abaixo:

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Algumas espécies de orquídeas tem flores com formas que atraem vespas (polinizadoras). O bicho-folha é praticamente imperceptível em meio às folhas. A coral falsa (abaixo) se assemelha muito à coral verdadeira.

A seleção natural também é capaz de moldar o comportamento dos organismos. Comportamentos como os rituais de acasalamento dos pássaros, a dança de meneio das abelhas e a capacidade humana de aprender línguas também tem componentes genéticos e são sujeitos a seleção natural. O mergulhão de pés azuis, por exemplo, exagera nos movimentos de seus pés para atrair uma parceira durante o período reprodutivo.

Em alguns casos, podemos observar a seleção natural diretamente. Dados muito convincentes mostram que o formato do bico dos tentilhões das Ilha Galápagos tem seguido os padrões do clima: depois de secas, a população de tentilhões têm bicos mais compridos e fortes que permitem que eles comam sementes mais duras.

Em outros casos, atividades humanas levaram a mudanças ambientais que fizeram com que populações evoluíssem pela seleção natural. Um exemplo marcante é o da população de mariposas escuras no século 19 na Inglaterra, que cresceu e decresceu em paralelo com a poluição industrial. Basicamente, com o aumento da poluição, a população de mariposas escuras aumentou, porque a fuligem da poluição na casca das árvores as deixava ainda mais camufladas. Porém, com reduções rápidas na poluição, a casca das árvores ficou mais clara, o que aumentou a visibilidade das mariposas e as tornou alvos fáceis para as aves insetívoras.

Essas mudanças geralmente podem ser observadas e documentadas, porém, estruturas complexas, como o olho, passaram por centenas de milhares de anos de evolução.

A evolução é uma força tão magnífica, que por pelo menos 5 vezes, após as cinco grandes extinções globais, permitiu a recolonização do planeta com base nos poucos grupos de organismos sobreviventes. Ou seja, após cada evento de extinção, novos grupos surgiram e eles eram totalmente diferentes dos grupos que colonizavam o planeta. A terceira extinção, que aconteceu há cerca de 250 milhões de anos atrás (entre os Períodos Permiano e Triássico) eliminou cerca de 95% da vida na terra e foi uma das extinções que mais marcou a vida no planeta. Cerca de 65 milhões de anos atrás, no período Cretáceo e Terciário, a vida novamente foi devastada no planeta – a quinta extinção – dando fim aos dinossauros. De lá pra cá, a maioria dos vertebrados terrestres e aquáticos são descendentes de dinossauros sobreviventes. Todas as aves, por exemplo, descendem de dinossauros ancestrais saltadores-planadores que tinham penas primordiais. Essas penas não tinham função relacionada ao voo mas sim com proteção térmica, regulação da temperatura corporal etc. Além disso, você sabia que as baleias surgiram a partir de ancestrais terrestres? Pois é, tudo isso graças à seleção natural!

No período de uma vida humana, é praticamente impossível ver a evolução em ação, apenas em escalas pequenas, como no caso da cor das mariposas e a poluição local. Para entender as mudanças graduais ao longo do tempo, os fosseis estão à nossa disposição. Eles constituem os principais fatos que podemos utilizar para elucidar grandes mistérios sobre a diversidade da vida na terra.

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Equívocos sobre a seleção natural

As adaptações incríveis e os organismos surpreendentes que a seleção natural produz, torna muito tentadora a ideia de que ela seja uma força que instiga os organismos, constantemente empurrando-os em direção ao progresso de acordo com as suas necessidades. Mas não, a seleção natural não é nada disso! Esse é apenas um equívoco muito difundido por aí.

Antes de mais nada, entenda que a seleção natural não é perfeita! Basicamente, o que acontece com as espécies é algo como:

Se seus genes são “bons o suficiente”, você terá alguns descendentes na próxima geração – você não tem que ser perfeito.

E isso está sempre bem evidente para qualquer parte da natureza que você olhar. As pessoas possuem genes para vários tipos de doenças genéticas (algumas incuráveis, inclusive), plantas podem não ter os genes para sobreviver a uma seca, um predador pode não ser rápido o bastante para pegar sua presa toda vez que tem fome. Nenhuma população ou organismo é perfeitamente adaptado. Isso acontece porque o ambiente e os organismos interagindo constituem uma força constante que molda a vida na terra ao longo do tempo. Nesse sentido, uma doença, como um parasitismo, pode afetar a velocidade das presas e o predador citado acima pode ter maiores chances de capturar suas refeições sem despender tanta energia. Para a população de presas, os indivíduos que tiverem maior resistência aos parasitos terão maior probabilidade de sobreviver e deixar descendentes do que os que são afetados pela doença e predados mais rápido.

Isso nos remete ao fato de que ‘o jogo muda’ o tempo todo e os indivíduos podem ser favorecidos e em outros momentos prejudicados por inúmeros fatores que permeiam suas vidas através da combinação dos genes que possuem com os processos que estão acontecendo onde vivem. Na incerteza das várias pressões evolutivas, um indivíduo terá condições de deixar mais descentes apenas se seus genes forem bons o suficiente.

A natureza não é estável, e é justamente essa instabilidade – ou melhor, a ausência de perfeição – que mantém a vida no planeta através da seleção natural e outros processos evolutivos.

Outra coisa importante para compreender a seleção natural, é pensar nela como um processo complexo que leva determinado tempo para acontecer ao invés de uma mão guia. Como disse anteriormente, a seleção natural é o resultado simples da variabilidade genética, reprodução diferencial e hereditariedade.

A seleção natural é desatenta e mecânica, não tem objetivos e não está se esforçando para produzir “progresso” ou um ecossistema balanceado. 

Justamente por isso que as palavras “precisa”, “tenta” e “quer” não são corretas para explicar a evolução. A população ou indivíduo não “quer” ou “tenta” evoluir e a seleção natural não pode tentar fornecer o que um organismo “precisa”. Seleção natural apenas seleciona entre quaisquer outras variações existentes na população. O resultado é a evolução.

No extremo oposto da escala, a seleção natural é, às vezes, interpretada como sendo um processo aleatório. Isso também é um equívoco. A variação genética que ocorre em uma população por causa de uma mutação é aleatória – mas a seleção age nessa variação de maneira muito não-aleatória: variantes genéticas que ajudam na sobrevivência e na reprodução são muito mais prováveis de se tornarem comuns do que as que não ajudam., como vimos no exemplo dos besouros no começo do post. Ou seja, a seleção natural NÃO é aleatória!

Agora, para entender de uma vez por todas a seleção natural, pegue seu fone e se divirta com os vídeos abaixo. Mas é pra ver todos, na íntegra, hein! Ah, e não se esqueça de ativar a legenda em português! Todos estão muito bem legendados. ;)

Para mais informações, acesse a página de Introdução à Evolução da USP no qual esse post foi baseado.

Guellity Marcel
Guellity Marcel
Biólogo, mestre em ecologia e conservação, blogger e comunicador científico, amante da vida selvagem com grande interesse pelo empreendedorismo e soluções de problemas socioambientais.
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