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Introdução à Biologia Vegetal

A Sistemática Vegetal e seu significado

A Sistemática Vegetal é a parte da botânica que tem por finalidade agrupar as plantas dentro de sistemas, levando em consideração suas características internas e externas, suas relações genéticas e afinidades. Muitos botânicos consideram o termo sistemática e taxonomia como sinônimos; porém, outros reservam a designação taxonomia para a ciência que elabora as leis da classificação e sistemática para aquela que cuida da classificação dos seres vivos, baseada fundamentalmente na morfologia.

A sistemática compreende três etapas: a identificação, a nomenclatura e a classificação.

A identificação: é a determinação de um táxon como idêntico ou semelhante a outro já conhecido. Pode ser realizado com auxílio de literatura ou por comparação com outro táxon de identidade conhecida. Táxon é o termo estabelecido para determinar uma unidade taxonômica de qualquer hierarquia (família, gênero, espécie, etc.).

Nomenclatura: cuida do emprego correto dos nomes das plantas e compreende um conjunto de princípios, regras e recomendações aprovados em Congressos Internacionais de Botânica e publicados num texto oficial.

Classificação: é a ordenação das plantas num táxon. Cada espécie é classificada como membro de um gênero, cada gênero pertence a uma família; as famílias estão subordinadas a uma ordem, cada ordem a uma classe, cada classe a uma divisão. Vale lembrar que o termo classificação não é sinônimo de identificação.

Quando, por exemplo, se nomeia uma planta já conhecida, ela está sendo identificada, ao passo que, quando se procura localizar um exemplar ainda não conhecido dentro de um sistema de classificação, estar-se-á classificando.

Antigamente, Sistemática era uma ciência que se restringia ao estudo de fragmentos de plantas, devidamente etiquetados e conservados em herbáreo, baseando-se no estudo morfológico desses espécimes. A sistemática moderna, chamada Nova Sistemática, estuda o comportamento da planta na natureza, fundamentada na morfologia, na estrutura anatômica dos vegetais, nos caracteres genéticos, na ecologia, na distribuição geográfica, no estudo de seus antepassados, etc. para compreender e estabelecer as verdadeiras afinidades e grau de parentesco existente entre os diversos grupos vegetais.

Para agrupar os vegetais de acordo com suas afinidades verdadeiras, a Sistemática lança mão de todas as ciências botânicas. Baseia-se na hipótese de que existem relações genéticas entre as plantas e que os vegetais atuais descendem de outros existentes ou já extintos, através de sucessivas gerações. Está fundamentada na suposição de que ocorreu, durante as épocas de desenvolvimento da história da Terra, uma evolução dos caracteres das plantas, encontrando-as mais complexas hoje em dia.

Nomenclatura

Considerando uma espécie qualquer, o milho por exemplo, ela possui uma série de características que a distingue de outra espécie qualquer. Muitas vezes pode ocorrer de duas espécies possuírem caracteres tão semelhantes que é difícil distingui-las, ou ainda, possuírem uma grande variabilidade de formas. Isto ocorre devido ao próprio processo evolutivo, ou seja, muitas espécies não estão definidas ou estão em processo de formação de duas ou mais.

A necessidade de identificar as espécies universalmente levou a utilização de um nome científico. Várias tentativas foram feitas, mas somente Carl Linné (1707-1778) conseguiu organizar uma nomenclatura eficiente, formada por apenas duas palavras: a Nomenclatura Binomial. A primeira palavra seria um substantivo, retirado do táxon gênero, e a segunda seria um adjetivo que formaria a espécie. No exemplo do milho, teríamos então Zea como substantivo e mays como adjetivo; ficando a espécie com o nome científico de Zea mays.

Z. mays representa a unidade básica de toda a sistemática: a espécie, e com isso seu conjunto próprio de caracteres genotípico e fenotípico. A obtenção deste adjetivo é diversa, sendo na maioria das vezes derivado de características existentes no próprio vegetal, seu habitat, etc. No caso do milho, o termo mays provem dos índios Maias que o cultivavam.

Zea é o gênero a que pertence a espécie citada, isto é, um grupo de espécies muito semelhantes pertenceriam ao táxon chamado gênero. Portanto, ao dar o nome científico a uma espécie já está se indicando a que grupo (táxon) ela pertence.

Porém, devido ao grande número de espécies existentes, foi necessário organizá-las em taxa mais elevados, ou seja, um grupo de gêneros com características próximas seria englobado por um táxon superior denominado família. Um conjunto de famílias afins formaria um táxon de nível mais elevado, denominado ordem e assim sucessivamente para classe e divisão.

O termo divisão está prescrito nas normas de nomenclatura para representar a categoria de maior magnitude no reino vegetal e seu número varia com os diferentes sistemas de classificação (tabela 6.1). Os zoologistas dividem o reino animal em phyla e para uniformidade de termos alguns botânicos têm adotado o termo phylum para plantas em lugar de divisão.

Dentro de uma espécie podem, ainda, ocorrer variações nas características ou seleção de híbridos pelo homem, criando subníveis como: subespécie, variedade, forma, raça, clone. Nos demais taxa podem também ocorrer subdivisões, nas quais pode ser acrescentado o prefixo sub ao táxon, indicando que este é inferior e o táxon tribo abaixo de família. Assim teremos:

Divisão
sub-divisão
Classe
sub-classe
Ordem
sub-ordem
Família
sub-família
tribo
Gênero
sub-gênero
Espécie
sub-espécie, variedade, forma

Regras de Nomenclatura

Cada táxon tem um radical e um sufixo determinado por normas:

I – O radical é obtido sempre de um taxa inferior mais característico. Assim, dentro de um grupo de gêneros que pertencem a uma família, o mais característico (chamado gênero tipo) fornece o radical para a formação do nome da família Ex.: gênero Aster, família Asteraceae. O mesmo ocorre para os níveis superiores à família, de modo que a família mais característica da ordem fornecerá o radical para a formação do nome deste táxon e assim por diante.

II – Cada nível de táxon possui um sufixo específico. Veja no quadro abaixo o exemplo para a espécie Rosa alba.

Táxon

Sufixo

Exemplo

Espécie Rosa alba
Gênero Rosa
Tribo eae Roseae
Família aceae Rosaceae
Ordem ales Rosales
Classe eae ou Dicotiledoneae
opsida Magnoliopsida
Sub-divisão ae Angiospermae
Divisão ae ou Magnoliophyta
phyta

 

III – Todos os nomes devem ser escritos em latim ou latinizados. Isso porque o latim é uma língua “morta” e não sofre modificações (não evolui). Além disso, não nacionaliza a ciência, já que não dá preferência a nenhuma nação atual.

IV – Os nomes de taxa devem ter a letra inicial maiúscula, exceto de espécie.

V – O nome científico de uma espécie é sempre formado por duas palavras (nomenclatura binomial, já descrita no texto).

VI – O nome científico da espécie deve vir acompanhado do nome (abreviado) do autor que a descreveu. Ex.: Rosa alba L. Quando ocorre dois nomes de autores, sendo o primeiro entre parênteses, significa que o segundo modificou a posição sistemática. Ex.: Bulbostylis capillaris (L.) Clarke.

VII – O nome científico da espécie deve vir grifado ou destacado no texto.

Os Sistemas de Classificação

Os sistemas de classificação baseiam-se em três tipos principais: o artificial, o natural e o filogenético. Os primeiros sistemas de classificação eram considerados artificiais porque se baseavam num único caráter da planta. Um exemplo clássico é o chamado sistema sexual de Lineu, fundamentado no número e disposição dos estames.

Este sistema era bastante falho, pois plantas inteiramente diferentes eram agrupadas numa mesma classe porque apresentavam o mesmo número de estames. No final do século XVIII, com o aumento dos conhecimentos botânicos, começaram a surgir mudanças revolucionárias nos sistemas de classificação vegetal. Os novos sistemas foram chamados de sistemas naturais e eram baseados na afinidade natural das plantas, que não depende de uma só característica, mas de toda a organização do vegetal de modo que cada planta ficasse situada ao lado daquela mais semelhante. Um dos primeiros a utilizar este sistema foi Jussie, que procurava ordenar as plantas considerando o número de cotilédones, a estrutura da semente e muitos caracteres vegetativos e reprodutivos.

A difusão rápida e a pronta aceitação das teorias de Darwin, demonstraram a insatisfação que existia entre os pesquisadores a respeito dos diversos sistemas de classificação até então existentes. O sistema filogenético surgiu então, baseado na variabilidade das espécies. Este cuida de suas relações genéticas, levando em consideração tanto os vegetais atuais, como aqueles de outras eras geológicas.

Em síntese, o sistema filogenético se firma na teoria evolutiva, classificando os organismos com base nas modificações de seus caracteres. Um bom representante para o sistema filogenético foi Eichler (1883) que dividiu o reino vegetal em Phanerogamae e Criptogamae.

A classificação das plantas, bem como dos demais seres vivos, está sujeita a alterações, em função de novas descobertas científicas e reformulações de antigos conceitos. Entretanto, as modificações propostas nem sempre são aceitas por todos os pesquisadores, os quais podem decidir por outras abordagens de classificação. Assim, é muito difícil dizer qual é o melhor sistema de classificação, principalmente quando se trata de vegetais, onde pelo menos quatro sistemas são comumente utilizados: o de Eichler (1883), o de Tippo (1942), o de Wittaker (1969) e o de Bold (1970).

Esse conteúdo é parte da apostila de Introdução à Biologia Vegetal da USP e foi reproduzido na íntegra para divulgação do conteúdo da mesma.

Clique aqui para baixar esta apostila.

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Guellity Marcel
Guellity Marcel
Biólogo, mestre em ecologia e conservação, blogger e comunicador científico, amante da vida selvagem com grande interesse pelo empreendedorismo e soluções de problemas socioambientais.
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